sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Universais de Tillich...

O que é o nominalismo? Em Filosofia, é a negação da existência de universais. Um universal é uma entidade metafísica que garante às coisas suas respectivas essências, ou qualidades de Ser. Eles podem existir num além-mundo, idealmente, como em Platão, ou podem existir dentro de cada particular, como em Aristóteles. O que importa é que nessas duas filosofias (chamadas realistas) os universais possuem existência ontológica. 

Pensando assim, quando você vê uma cadeira com o pé quebrado, você ainda a chama “cadeira” – mesmo sem o pé – pois reconhece que ela ainda é uma cadeira, ou compartilha a qualidade de “Ser” cadeira. Isso não é uma opinião subjetiva sua (“ah, eu chamo de cadeira porque eu ainda consigo sentar, se não conseguisse...”) mas uma realidade ontológica. Ela compartilha essa qualidade “cadeira” com todas as outras.

Universalia realia. Os universais são realidades, para os medievais. Essas essências metafísicas são potenciais de Ser, e determinam o que as coisas são. Paul Tillich explica: eles não existem no tempo e no espaço. Se fosse assim, isso seria baboseira. Você diria: “ah, eu nunca vi ‘humanidade’, só pessoas individuais, o Bruno e o Pedro. Nunca vi nem toquei na ‘cadeiridade’ ou na ‘arvorirade’, só vi cadeiras e árvores individuais, particulares”. É óbvio que você nunca viu nem tocou num universal. (Tillich, 143) Mas assim como o Bruno e o Pedro e todos os homens têm nariz e boca, o universal é o poder que torna possível todo indivíduo se desenvolver assim. Para que isso seja real, estrutural, garantido, ele precisa existir ontologicamente.

Para o nominalista, os nomes que damos às coisas são meras conveniências, e chamamos “cadeira” vários objetos diferentes porque por acaso eles compartilham semelhanças que interessam a nós no momento. Se nos preocupássemos com outras coisas, daríamos outro nome. Não haveria nada real que os uniria metafisicamente. Seriam apenas particulares, soltos, desconexos.

Paul Tillich dá um exemplo bacaníssimo. Você pode ver uma árvore na esquina da Rua Itacolimi com a Rua Alagoas e dizer “putz, isso pode cair e me machucar”. Você pode ver uma árvore na janela de casa e pensar “Hmmm, essa árvore fica linda aí.”. Você está no terreno dos particulares aqui. Ou você pode ver uma árvore qualquer, e se deslumbrar de como ela cresce segundo uma estrutura típica, como ela espalha suas sementes em certa época do ano, como ela agrega outras plantas em seu tronco, e se fortalece, e transmite vida, e você diz “isso é uma árvore”. Isso é uma posição realista, que procura a essência das coisas.

Not so Fast

Normalmente o nominalismo está para Filosofia assim como a peste negra está para a História. Mas não parece que é necessário pensar assim. Há quem buscou requalificar o pensamento nominalista medieval (cf. Heiko Oberman, historiador luterano) e torna-lo mais palatável.

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